segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Proibido fumar: Cigarro



Pesquisa afirma que 9% dos que experimentam a erva ficam dependentes; tabaco marca 32%, e álcool, 15%
Uso prolongado da droga aumenta, porém, riscos de doenças mentais, bronquite, câncer e depressão

RICARDO MIOTO
DE SÃO PAULO

Maconha é coisa de jovem: o usuário típico deixa a erva conforme vai envelhecendo, diz um estudo internacional que revisou os principais trabalhos já feitos sobre o tema.
De acordo com o "Cannabis Policy", publicação de 300 páginas lançada nos EUA, a droga ganha do álcool e do tabaco em segurança. Nove por cento dos que experimentam maconha tornam-se dependentes, contra 32% do tabaco e 15% do álcool.
Segundo os dados de Robin Room, da University of Melbourne, líder do trabalho, a droga causa relativamente poucos acidentes de trânsito. "Essa é a principal preocupação relacionada aos efeitos agudos da maconha", escreve Room, "porque ela reduz a atenção e a coordenação motora".
Dados mais recentes mostram que a maconha duplica a chance de acidentes. O álcool é pior: aumenta mais de dez vezes o risco. "Aparentemente, os motoristas que fumaram maconha dirigem mais devagar."

FAZ MAL, MAS QUANTO?
O estudo de Room esteve no centro de uma polêmica entre dois cientistas brasileiros. Ronaldo Laranjeira, da Unifesp, citou o trabalho em artigo nesta Folha, listando doenças relacionadas à erva e argumentando que é falácia dizer que ela é segura.
Em resposta, Sidarta Ribeiro, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, acusou o colega de distorcer o estudo, que sugere a legalização da droga, porque "seus danos são modestos". Ambos elogiam o currículo de Room e seu trabalho.
O "Cannabis Policy" lista problemas relacionados ao uso contínuo da maconha, mas faz considerações sobre a limitação do seu impacto.
Relata a relação entre seu uso na gravidez e a redução do peso do bebê ao nascer, mas menos do que no caso do tabaco. Cita ansiedade e insônia como sintomas comuns de viciados que tentam abandonar a erva.
Usuários têm mais chance de ter bronquite e câncer no pulmão. Room estima que um homem de 44 anos que fumou maconha por toda a vida diariamente tem 3% mais risco de sofrer infarto.
A maconha aumenta em mais de duas vezes o risco de esquizofrenia. Ainda assim, cientistas calculam que, para evitar um caso da doença entre jovens adultos, seria preciso fazer com que 5.000 pessoas não fumassem a erva.
O risco de depressão é mais de duas vezes maior. Mas não há como excluir a hipótese de que depressivos fumem como automedicação -é difícil saber qual a causa e qual a consequência.
O mesmo ocorre com a evasão escolar. É a erva que deixa os adolescentes desanimados com a vida ou jovens sem rumo procuram mais as drogas?
Mesmo assim, Room acredita que a erva não é especialmente problemática. "Os riscos à saúde do tabaco e do álcool são muito maiores."

Psiquiatra afirma que a legalização aumentaria o uso

DE SÃO PAULO

No Brasil, 2,6% da população já experimentou maconha. Na Europa Ocidental, 7%. Na América do Norte e na Oceania, 11% e 16%.
Para o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, legalizar a droga no Brasil seria aceitar o risco de ver o consumo disparar. "O preço seria ver o país chegar em um padrão australiano daqui a dez anos. Se isso acontecer, em um país sem retaguarda do sistema de saúde, a população necessitada vai ficar desassistida."
O trabalho de Robin Room cita o caso da Holanda, onde é possível fumar a erva em coffee shops, embora a maconha não seja legalizada.
Lá, com o crescimento no número desses estabelecimentos, o número de jovens entre 18 e 20 anos que já tinha fumado subiu de 15% para 44% em 12 anos.
"A maconha não faz parte da nossa cultura. Se você fizer um plebiscito sobre a legalização, ela perde fácil", acredita Laranjeira.
Já o neurologista Sidarta Ribeiro prega a legalização. "Por que a maconha é considerada porta de entrada para as outras drogas? Porque as outras são vendidas pelos mesmos traficantes", diz.
Apesar do aumento no número de usuários, a Holanda teve sucesso em afastá-los de traficantes: 87% da maconha consumida em Amsterdã é comprada em coffe shops.
Laranjeira acha que o maior objetivo de uma política sobre a maconha deve ser evitar aumento no número de usuários. Ribeiro se preocupa mais em tirar a erva da mão dos traficantes.
"Nada garante que, após a legalização, variações mais perigosas da maconha não surjam, como já ocorre no Reino Unido", diz Laranjeira.
O trabalho de Room fala pouco sobre o uso medicinal da maconha, outra área em que os pesquisadores discordam. Ribeiro aponta os benefícios contra dor e insônia, por exemplo. Laranjeira acha que há substâncias melhores para tratar esses sintomas.

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