sábado, 19 de dezembro de 2009

O mundo Está de olhos vendados

Cego não é só aquele que não vê...mas sim pessoas incapazes de enxergar o próximo passando fome, sede, frio e injustiças por aí ...

Surdos não são só aqueles que não ouvem, mas sim aqueles que não querem ouvir o mundo gritando por socorro, por justiça , por ajuda.

Os deficientes não são só aqueles que não andam, não falam, não ouvem, não vêem, mas sim todas aquelas pessoas fracas que não conseguem ajudar aos outros e a si mesma...
Até quando pessoas irão passar fome ?
Até quando pais irão espancar filhos ?
Até quando haverá guerra ?
Até quando iremos ficar deficientes, cegos, surdos e mudos ?

A deficiência ou melhor o “problema” não está fora e sim dentro de cada um de nós ...

Texto: Carlos Eduardo

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Gente, antes de mais nada concordo com o tom de vocês... Com certeza, nada do que falemos diante da enxurrada de violência simbólica representa alguma coisa estatisticamente. Isso pode Nosso discurso pode mudar por causa disso ou não... Acho que aprendemos a deixar a diplomacia de lado, ir pro enfrentamento de idéias.. Podemos estar errados também né? Tipo assim, qual a linguagem do jornalismo ativista que poderia dialogar diante dessas campanhas de massa?

Quanto ao crack ser "8 ou 80", e comparações com outras drogas consideradas "pesadas", vejo algumas coisas que podemos pensar além disso... Certo que cada droga e cada pessoa é um universo. Conheço gente que se dá mal com maconha, não sabe lidar, entra numas e "vicia" mesmo. Então para aquela pessoa especificamente, a maconha será, modo de dizer, uma droga "pesada" né.. Enfim, não sei se é a melhor forma de dizer. Porque não é só uma qeustão química. Nas tabelas que fazem por aí, põem mesmo os opiáceos junto do tabaco industrializado como "maior potencial aditivo", e a cocaína em sua forma pura divide muita gente (não é consenso por exemplo se a crise de abstinência p/ cocaína aspirada é uma regra geral). O problema é que o crack que estamos falando na nossa realidade não existe objetivamente, em cada lugar é feito de um jeito e adulterado pra caralho. Nenhuma pesquisa em âmbito laboratorial é confiável porque não existe
amostra representativa (além do mais, é praticamente proibido pesquisar droga ilícita). Isso não tem a ver com a "essência" de uma substância, mas sim diz respeito ao fluxo social dela (que na verdade são várias drogas possíveis a qual damos um mesmo nome; noutros cantos pessoal chama de merla, oxi etc), o que caracteriza todas as "versões" é isso, a adulteração pesada; que nasceu a partir do controle de substâncias pro refinamento de cocaína. Na teoria, crack deveria ser tão somente o nome dado a uma forma de consumo de cocaína (fumado). Ou seja, prefiro dizer que o crack não "é" 8 ou 80, mas sim, que o crack ESTÁ 8 ou 80. O potencial danoso ou destrutivo ao organismo diz respeito (além da questão química) ao modo como circula na sociedade hoje. O que podemos propor quanto a isso não sei, heheheheh... Sou contra qualquer legalização que tenha a ver com apropriação de lucros, e ao mesmo tempo não consigo acreditar numa
política que não combata a adulteração... Complicado isso...

Outra coisa são as relações construídas com a droga. É preciso abandonar a busca por "essências" nos comportamentos viciados (como certos psiquiatras que só sabem seguir tabelinha pra enquadrar diagnóstico/prescrição), e compreender o indivíduo específico, suas condições de vida... Desintoxicar um corpo (ou dopar de carbamazepina) é barbada, mas o que é que se pode colocar no lugar da droga? O que a droga está significando na vida de quem tá viciado? Então mais ou menos por aí, o plano de enfrentamento tá foda, é uma galera querendo construir mais leitos psiquiátricos da mesma forma que na area da segurança pedem por mais presidios.. A RD está pequena por causa desse corporativismo (ela não é pequena, está..), e também pelas moralidades todas preconceituosas e criminalizadoras, muita equipe de unidades de saúde dizem que "não tem preparo" pra conversar com quem usa drogas, quando na verdade o que falta é vontade mesmo de
trabalhar, de quebrar o preconceito (de especialistas estamos fartos até)

1. O Ministério da Saúde vai lançar uma Campanha Nacional de Enfrentamento dos Problemas Relacionados ao Consumo de Crack na próxima semana, através dos meios de comunicação (TV, rádio, cartazes).

2. A idéia central da campanha é prevenir o consumo de crack e também colocar esta questão como uma situação que envolve toda a sociedade e exige diferentes ações em todos os níveis de governo. Para isto contamos com seu apoio e colaboração para consolidarmos esforços comuns e efetivos para enfrentar as situações relacionadas ao consumo de crack.

3. Além de reconhecer o consumo de crack como um grave problema de saúde pública, esta campanha também abordará outros aspectos, desde informações sobre as conseqüências físicas do consumo de crack até situações que incluem a família e a sociedade como um todo.

4. Como as peças da campanha enfatizam a saúde, todas incluirão o número do Disque Saúde (0800 61 1997), serviço telefônico gratuito do Ministério da Saúde que presta orientações a usuários e dá informações sobre doenças e serviços oferecidos pela rede SUS.

5. Os atendentes do Disque Saúde serão orientados a repassar endereços e telefones dos Centros de Atenção Psicossocial (especialmente os CAPSad, CAPSi e CAPS III) às pessoas interessadas nos serviços especializados de tratamento que o SUS oferece para a dependência de álcool e outras drogas.

6. Desta maneira, existe uma expectativa de que estes serviços poderão ter aumento de procura por acolhimento/avaliação/início de abordagem e também de informações e atendimentos telefônicos especialmente durante a semana da campanha. Sugerimos que estas informações sejam repassadas para todos os CAPS como forma de organizar estratégias emergenciais de acolhimento com o objetivo de iniciar as intervenções de saúde e ampliar as possibilidades de adesão.

7. Esta campanha terá alcance nacional e certamente aumentará a procura por informações locais sobre a rede de atendimento e seu funcionamento, além de dados epidemiológicos sobre o consumo de crack, por órgãos da imprensa local e regional. É importante aproveitar esta possibilidade para tornar mais visíveis as ações locais de saúde mental que estão sendo desenvolvidas.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

30% das favelas cariocas serão ocupadas pela polícia até 2010

Mesmo aqui de Porto Alegre, há mais de 1.500km do Rio de Janeiro é impossível não se envolver com a situação das favelas cariocas. O tráfico de drogas é sim um problema do Brasil e do mundo. Mas aqui nas terras tupiniquins o estado que mais sofre as conseqüências disso é o RJ.

Já nos acostumamos com notícias sobre a guerra entre a Polícia Militar e os traficantes de algum morro carioca. E cada vez que isso acontece, temos ainda mais certeza de que os principais afetados por essa guerra são os inocentes.

O Secretário Estadual de Segurança Pública, Jose Mariano Beltrame, segundo reportagem da Folha de S. Paulo, diz que a polícia irá ocupar pelo menos 30% das favelas do RJ até 2010.

Ainda segundo a reportagem, "Essa proposta não vai parar. É um aceno concreto de que nos preparamos para fazer isso e vamos continuar fazendo. E teremos um grande número de pessoas beneficiadas até o final do ano que vem. Pretendemos chegar a 30% das comunidades, que sofrem hoje a lógica do território imposto pelo fuzil, livre dessa arma, livre do comando desses marginais", disse Beltrame.

Essa é uma clara medida de maquiar o problema para a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016. Beltrame só esquece de citar que civis precisarão morrer para o estado fingir que resolveu o problema.

Na segunda-feira (30), começou a ocupação na favela Pavão-pavãozinho, essa comunidade é a próxima a receber a Unidade de Polícia Pacificadora. No primeiro dia já houve tiroteio, o suficiente para percebermos o quão pacífica será essa ocupação. Hoje, no segundo dia, o saldo é de um morto, que segundo a polícia é suspeito de tráfico de drogas.

Como resposta, os traficantes não satisfeitos com a ação da polícia, incendiaram um ônibus em Copacabana. Ainda não há notícias de feridos.Essa é apenas a primeira. Se até 2010 de fato ocuparem 30% das favelas cariocas, haverá quantas “respostas” como essa?

Quantos inocentes precisarão morrer para perceberem que a polícia é despreparada, e muitas vezes os policiais são até mais sanguinários que os traficantes? Quantas mães desesperadas, chorando a morte de seus filhos, devido uma bala perdida, a sociedade precisará ver para realmente enxergar que a repressão armada nunca resolveu e nunca resolverá o problema?

Um Brasil sem drogas é impossível. Já um Brasil sem o tráfico violento só necessita de mudanças na legislação.

Texto por: Bruna Cardoso

EM PORTO ALEGRE, REPRIMIR DROGAS É MAIS IMPORTANTE DO QUE INVESTIGAR HOMICÍDIOS!

No dia 25/11/2009 presenciei uma palestra do seminário "O inquérito policial em questão" que ocorreu na UFRGS, no Salão Nobre da Faculdade de Direito. O palestrante era o Rodrigo Ghiringhelli Azevedo, Sociólogo e Prof. da PUC-RS.
O inquérito policial é a investigação feita pela Polícia para apurar o cometimento de algum crime. Funciona mais ou menos assim:

(1)Um fato social considerado delitivo, posto que ofende bens-jurídicos tutelados pelo Direito Penal (a vida, a saúde pública, a propriedade, a liberdade, a integridade física, o patrimônio, a paz social, etc.) é cometido, lavrando-se uma ocorrência policial. Ou seja, o agente policial irá transformar os fatos ocorridos em um relato informal (Boletim de Ocorrência). Esta é a fase na qual ocorrem os maiores índices de corrupção; também é a mais propícia para que ela ocorra; pois se o policial não escreve nada no B.O, é como se nada tivesse ocorrido no mundo dos fatos; e devido à sua baixa remuneração é mais fácil corromper um policial do que um Delegado, um Promotor, um Juiz.

(2)Após concluídas as investigações sobre o caso, esse relato informal vira algo técnico e “jurídico” por intermédio de um Delegado, convertendo-se em um inquérito policial que tem por finalidade fornecer ao Ministério Público, elementos idôneos que o autorizem a ingressar em juízo com a denúncia ou a queixa, iniciando-se desse modo o processo penal.

(3)Com base nesse inquérito, o M.P acusa o suposto autor do crime.

A conclusão feita após ouvir a palestra do Dr. Rodrigo de Azevedo sobre o Inquérito Policial na Cidade de Porto Alegre foi: evite ao máximo ser assassinado em Porto Alegre ou traficar drogas – especialmente “crack”. No caso disto acontecer tu serás pego, e ninguém gosta de traficantes de “crack”, em particular, a mídia gaúcha; já, caso aquilo ocorra, o seu algoz provavelmente nunca será descoberto.

No Brasil, especialmente no RS, a mídia e a política (a política má, não aquela que visa ao bem comum da sociedade; mas sim aquela que visa ao favorecimento de pequenos grupos oligárquicos) influenciam diretamente na atuação da nossa Polícia e na definição das políticas criminais. Chegou-se ao absurdo de que na cidade de Porto Alegre, a Delegacia que cuida dos crimes de Homicídio possui apenas 2 delegados!

Enquanto a repressão ao tráfico de drogas (coisa que todos nós já sabemos que não dá certo, não soluciona problema algum) tem delegacias especializadas (DENARC) com não sei quantos delegados. Aqui vemos claramente a influência da mídia, incentivando essa repressão através de campanhas que enaltecem a apreensão de drogas como a famigerada CRACK NEM PENSAR!

O Dr. Rodrigo mostrou um exemplo claro dessa ingerência absurda do poder político midiático e do poder econômico na atuação da Polícia Gaúcha. Os bancos financiam a gasolina, entre outras regalias, de viaturas de alguns batalhões de polícia para que eles "vigiem" mais os bancos do que outros pontos da cidade. Logo, o cidadão que paga imposto não recebe a mesma "segurança pública" que recebem os detentores dos grandes capitais ($). E quando mataram o médico Becker (caso Becker, de ampla repercussão midiática) designaram 1 dos 2 únicos delegados da Delegacia de Homicídios, só para cuidar do caso. O outro delegado, portanto, ficou responsável por todos os outros homicídios ocorridos na cidade, praticados geralmente em regiões pobres da cidade de Porto Alegre.

E por que isso? Ora, porque mataram um médico, classe alta. A mídia ficou alvoroçada, o cara tinha influência na política, logo, quem mata um cara desses não pode ficar impune. Temos que investigar. Já os pobres favelados que morrem todos os dias têm seus processos – inquéritos policiais - jogados na vala comum para serem analisados por um único delegado! Em consequência, muito provavelmente serão arquivados, já que é humanamente impossível para apenas um delegado resolver mais de 500 homicídios por mês.

Ao final da palestra um cara do Sindicato dos Escrivães de Polícia do RS pediu para falar e falou: o motivo pelo qual a Governadora Yeda demitiu um dos secretários de segurança pública (não lembro qual Secretário) foi porque ele tinha (segundo ela) o dever de informa-lá sobre a operação RODIN da PF que investigava a fraude no DETRAN, pois ele, antes de ser Secretário, tinha sido da P.F. Isto é, os governantes usam o aparato policial em seu favor, ao invés de ser em favor da sociedade.

Em suma, o inquérito policial é investigativo. Porém a Polícia (que recebe ordens dos Governantes do dia) prefere investigar crimes de tráfico de drogas, crimes que envolvam pessoas ricas, poderosas, influentes e crimes que tenham alguma conotação política do que investigar aqueles crimes mais importantes para o cidadão “comum”, como um homicídio contra um familiar querido, mas que não era alguém “importante”.

Na contramão de tudo isso está Portugal, que de forma inovadora, fez uma política criminal através de seu Parlamento. Ao invés de estabelecer uma política criminal de “cima para baixo”, na qual os Governantes, sem ouvirem o povo, decidem quais serão os bens jurídicos mais relevantes a serem tutelados pelo Direito Penal e, consequentemente, sobre quem recairá o braço armado do Estado, os portugueses deixaram que a vontade geral da Nação falasse quais seriam os bens jurídicos prioritários para a sociedade.

Assim, os Inquéritos Policiais que tratam sobre crimes contra a vida são prioridade, voltando-se todos os recursos estatais para a solução desses casos, em detrimento de outros crimes menos relevantes, como, por exemplo, crimes de drogas. Salve os portugueses, que demonstram, ao contrário das piadinhas infames, serem mais espertos que nós brasileiros, tendo inclusive já descriminalizado o uso de drogas há um bom tempo.