quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

lucro com maconha ultrapassa os 1500% em favelas Do RJ

Lucro com maconha ultrapassa os 1.500% em favelas do Rio

do R7

Além de criminoso, o tráfico de drogas é um negócio muito lucrativo no Rio de Janeiro. Com a venda de maconha, o lucro ultrapassa 1.500%, de acordo com fontes da polícia fluminense ouvidas pelo R7. O quilo é comprado pelos traficantes cariocas por R$ 300. Com a venda, o faturamento dos criminosos chega a R$ 5.000.

Já no comércio de crack, o lucro chega a 272%, enquanto com a cocaína fica em 266%, ainda segundo policiais. No caso da cocaína, o lucro com um quilo é de R$ 20 mil (comprada a R$ 12 mil e vendida a 32 mil). Já o quilo do crack é comprado por R$ 11 mil, o quilo, com lucro de R$ 30 mil.

Preso há um ano pela DHBF (Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense), o traficante conhecido como Cyborg ou DVD prestou um depoimento impressionante sobre a movimentação financeira do tráfico de entorpecentes na Vila Vintém, em Padre Miguel, na zona oeste do Rio, que, segundo ele, pode faturar mais de R$ 5 milhões por mês com a venda de drogas.

Ainda de acordo com Cyborg, a Vila Vintém conta com oito bocas de fumo, com sete "vapores" cada, como são chamados os que vendem a droga.

Cyborg admitiu vender três cargas de cocaína por dia. Cada carga contém 56 papelotes vendidos a R$ 10, num total de R$ 1.680. Dos R$ 560 faturados por carga, o vapor fica com R$ 60. Ou seja, por dia, o traficante recebia R$ 180, mais do que a maioria dos trabalhadores do país. Segundo os cálculos da polícia, o tráfico de drogas na Vila Vintém movimenta mais de R$ 100 mil, diariamente.

Nos fins de semana, de sexta-feira a domingo, quando são realizados bailes funk, o movimento praticamente triplica. O traficante Cyborg disse que chegava a vender dez cargas de cocaína por dia, num total de R$ 16.800 movimentados apenas por ele, sem contar outros 55 ‘vapores’.

A Vila Vintém é controlada pela mesma facção que tem como ‘quartel-general’ a favela da Rocinha, em São Conrado, zona sul do Rio, onde investigadores da Polícia Civil estimam um movimento de R$ 40 milhões por mês, principalmente com a venda de cocaína, considerada uma das mais puras da cidade.

Na Cidade de Deus, em Jacarepaguá, na zona oeste, a cocaína costuma ser vendida por quatro preços (R$ 3, R$ 5, R$ 10 e R$ 20). A maconha sai por R$ 2, R$ 5 ou R$ 10.

Do total movimentado na maioria das favelas cariocas, aproximadamente 2/3 correspondem ao lucro. O "dono" do morro fica com 1/8, independentemente de a quadrilha ter algum prejuízo com grandes apreensões de drogas, como explica um investigador ouvido pelo R7.

- Se um traficante tem uma pistola ou um fuzil apreendido, ele vai ter que recuperar o valor do objeto, porque aquele armamento está sob a responsabilidade dele. Já se o prejuízo for em drogas, todos os integrantes são prejudicados, exceto o dono, que recebe o valor correspondente ao pagamento dele normalmente.

Entre as despesas do tráfico, estão a compra de drogas e armas, pagamento de pessoal, contribuição para a caixinha da facção, no caso da maior organização do Estado, que controlava o Alemão, advogados de presos e dinheiro para os internos, que recebem até R$ 50 por semana, além eventuais pagamentos de propina para maus policiais.

Para especialista, Estado deve ressocializar jovens que atuavam no tráfico no Alemão





Rio de Janeiro - A ocupação do Conjunto de favelas do Alemão e da Vila Cruzeiro, na Penha, zona norte do Rio, que hoje (28) completa um mês, representou o primeiro e importante passo para a reconquista do território pelo Estado, mas ainda há um “largo caminho” a ser percorrido para de fato garantir cidadania à população que vive na localidade. A avaliação é do especialista em ciências criminais Wálter Maierovitch. Segundo ele, o Estado precisa investir fortemente nos jovens que estavam a serviço do tráfico para inseri-los na sociedade de forma digna.

“Aquele território não era do Brasil, mas da facção criminosa que o comandava. Ocorreu um resgate. Mas ainda há um largo caminho. Por exemplo, é preciso pensar imediatamente nos jovens que foram cooptados pelo crime organizado, dando a eles instrumentos [de ressocialização]. Não adianta colocar todo mundo nos presídios”, disse Maierovitch, que é também fundador e presidente do Instituto Brasileiro Giovanni Falcone – instituição cujo nome homenageia o magistrado italiano que lutou contra a máfia na Itália e acabou morto em um atentado mafioso.

Segundo ele, o fato de as ações da polícia terem sido feitas “dentro da legalidade” e com coordenação, indica que é possível desarticular as organizações criminosas chamadas por ele de “pré-mafiosas”, pois se impõem sobre territórios que conquistam e sobre parte da sociedade.

Maierovitch acredita que para evitar a rearticulação de criminosos que tenham migrado para outras áreas é fundamental atacar a economia do tráfico. “O único objetivo deles é o lucro, o dinheiro”, ressaltou. Para isso, na opinião do especialista, uma das estratégias é o acompanhamento da movimentação financeira em municípios de fronteira, usados como entrada de drogas, armas e munição no país.

“Existem muitas cidades de fronteira que têm um movimento financeiro infinitamente superior à sua capacidade financeira. Esse é um indicativo evidente de que o crime atua ali. Com isso, se pode verificar o percurso do dinheiro para se chegar definitivamente à cúpula das organizações [criminosas]”, explicou.

O especialista em ciências criminais citou outra técnica de inteligência policial, que vem sendo usada na Itália contra a atuação da máfia. Trata-se da infiltração de agentes altamente preparados, que se apresentam como lavadores do dinheiro para inserir as quantias geradas pelo crime em atividades formalmente estabelecidas.

“Dessa forma, também se chega à cúpula do crime. Mas aqui no Brasil ainda estamos muito longe dessa técnica, que é uma das mais modernas no combate ao crime organizado e permite fazer grandes apreensões com a identificação de onde esse dinheiro [ilícito] se encontra”, afirmou.

Ainda como forma de combater a atuação dos chefes do tráfico, que muitas vezes continuam comandando o crime de dentro dos presídios, ele também defendeu a criação de uma polícia penitenciária. O objetivo seria fiscalizar os presídios que recebem a liderança das organizações ligadas ao tráfico e verificar situações de enriquecimento ilícito de agentes e diretores dessas instituições.


FONTE: Jornal Brasil