quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Gente, antes de mais nada concordo com o tom de vocês... Com certeza, nada do que falemos diante da enxurrada de violência simbólica representa alguma coisa estatisticamente. Isso pode Nosso discurso pode mudar por causa disso ou não... Acho que aprendemos a deixar a diplomacia de lado, ir pro enfrentamento de idéias.. Podemos estar errados também né? Tipo assim, qual a linguagem do jornalismo ativista que poderia dialogar diante dessas campanhas de massa?

Quanto ao crack ser "8 ou 80", e comparações com outras drogas consideradas "pesadas", vejo algumas coisas que podemos pensar além disso... Certo que cada droga e cada pessoa é um universo. Conheço gente que se dá mal com maconha, não sabe lidar, entra numas e "vicia" mesmo. Então para aquela pessoa especificamente, a maconha será, modo de dizer, uma droga "pesada" né.. Enfim, não sei se é a melhor forma de dizer. Porque não é só uma qeustão química. Nas tabelas que fazem por aí, põem mesmo os opiáceos junto do tabaco industrializado como "maior potencial aditivo", e a cocaína em sua forma pura divide muita gente (não é consenso por exemplo se a crise de abstinência p/ cocaína aspirada é uma regra geral). O problema é que o crack que estamos falando na nossa realidade não existe objetivamente, em cada lugar é feito de um jeito e adulterado pra caralho. Nenhuma pesquisa em âmbito laboratorial é confiável porque não existe
amostra representativa (além do mais, é praticamente proibido pesquisar droga ilícita). Isso não tem a ver com a "essência" de uma substância, mas sim diz respeito ao fluxo social dela (que na verdade são várias drogas possíveis a qual damos um mesmo nome; noutros cantos pessoal chama de merla, oxi etc), o que caracteriza todas as "versões" é isso, a adulteração pesada; que nasceu a partir do controle de substâncias pro refinamento de cocaína. Na teoria, crack deveria ser tão somente o nome dado a uma forma de consumo de cocaína (fumado). Ou seja, prefiro dizer que o crack não "é" 8 ou 80, mas sim, que o crack ESTÁ 8 ou 80. O potencial danoso ou destrutivo ao organismo diz respeito (além da questão química) ao modo como circula na sociedade hoje. O que podemos propor quanto a isso não sei, heheheheh... Sou contra qualquer legalização que tenha a ver com apropriação de lucros, e ao mesmo tempo não consigo acreditar numa
política que não combata a adulteração... Complicado isso...

Outra coisa são as relações construídas com a droga. É preciso abandonar a busca por "essências" nos comportamentos viciados (como certos psiquiatras que só sabem seguir tabelinha pra enquadrar diagnóstico/prescrição), e compreender o indivíduo específico, suas condições de vida... Desintoxicar um corpo (ou dopar de carbamazepina) é barbada, mas o que é que se pode colocar no lugar da droga? O que a droga está significando na vida de quem tá viciado? Então mais ou menos por aí, o plano de enfrentamento tá foda, é uma galera querendo construir mais leitos psiquiátricos da mesma forma que na area da segurança pedem por mais presidios.. A RD está pequena por causa desse corporativismo (ela não é pequena, está..), e também pelas moralidades todas preconceituosas e criminalizadoras, muita equipe de unidades de saúde dizem que "não tem preparo" pra conversar com quem usa drogas, quando na verdade o que falta é vontade mesmo de
trabalhar, de quebrar o preconceito (de especialistas estamos fartos até)

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